Indo direto ao ponto,
às vezes pergunto-me se em algum dia, não teremos mais a necessidade de
falarmos de racismo no Brasil, por enquanto me respondo que esse sonho é uma
grande utopia. O nosso blog traz hoje, nenhuma novidade, mais um caso de
desrespeito a condição humana por conta da sua cor, o famigerado “racismo
estrutural”, que insiste em corroer a nossa sociedade como um verdadeiro
câncer. Felizmente esse é um assunto que vem pautando os noticiários e também,
as redes sociais nos últimos dias, o que não poderia ser diferente. O caso de
Samantha Vitena, que teve os seus direitos de cidadã ultrajados, ao ser expulsa
pela polícia federal, de um avião da empresa aéria Gol, simplesmente por não
ter na pele a mesma cor branca do comandante do voo 1575, sim, porque esse
individuo se sentindo ameaçado com a presença de uma mulher preta na sua
aeronave, que estava exigindo o seu direito de acomodar a sua bagagem,
solicitou a presença dos oficiais da polícia federal para expulsá-la. A
história sempre se repete, o preto é levado para o tronco e após ser chicoteado, vêm
os pedidos de desculpas. É... a Gol já começou a pedir.
Precisamos mudar esse
script, faz-se urgente uma lei que realmente puna e com severidade os atos
criminosos de racismo. Sendo mais direto, precisamos ter racistas na cadeia,
isso mesmo! Quando noticiarmos que um indivíduo está preso e vai cumprir pena
pelo crime odioso de racismo, a nossa sociedade começará a se pautar pelo
respeito sem olhar o status do outro, seja social ou pela cor. O caso de Samantha Vitena infelizmente não
será o último, muito pelo contrário, tenha certeza, ele repete-se diariamente e
de diversas formas, temos uma sociedade racista por formação, desde a invasão
dos portugueses marginais que vieram roubar e escravizar o nosso povo, foi
implantado o vírus maldito do racismo, do desprezo a pele preta. Precisamos
exigir cadeia para os racistas.
“Uma mulher negra,
identificada como Samantha Vitena, foi retirada do voo 1575 da Gol antes da
decolagem em Salvador, com destino a São Paulo, "por motivo de
segurança". Os apresentadores Manoel Soares e Rita Batista, da TV Globo,
usaram seus perfis nas redes sociais, na madrugada deste sábado (29), para
denunciar o caso de provável motivação racista.
Os passageiros
relataram que a vítima acabou tendo dificuldades para conseguir um lugar no
bagageiro para guardar sua mochila em decorrência da ocupação total da
aeronave. Ainda segundo os relatos, a tripulação teria ordenado que ela
despachasse a bolsa. Samantha recusou a proposta pois carregava com ela um
notebook, que poderia ser danificado no compartimento de carga.
Foi quando uma
confusão se formou, e a passageira acabou retirada à força por três agentes da
Polícia Federal. Depois, ela ficou retida no aeroporto. Tudo foi registrado em
vídeo que viralizou e gerou acusações de racismo.
"(...) se eu
despachasse meu laptop, ele ficaria em pedaços. Os comissários não moveram um
dedo para me ajudar. Eles falaram que se a gente pousasse em Guarulhos, a culpa
seria minha, porque eu não queria despachar a mochila. Ele teve a coragem de
falar isso para mim. A culpa não é porque o voo está há mais de duas horas atrasado.
Sendo que faz mais de 1 hora que eu coloquei a mochila aqui e o voo não
decolou. Agora, há três homens para me tirar do voo sem me falar o motivo. Eu
perguntei e ele disse que não vai falar. E disse que se eu não sair desse voo,
ele vai pedir para todo mundo sair, que eu estou desobedecendo e estaria
cometendo um crime", diz Samantha na gravação, feita por outra passageira.
Ao se negar a
despachar os pertences, Samantha sumariamente foi abordada por um agente, que
se aproxima e diz que a passageira está "faltando com a verdade".
"Estou lhe tirando da aeronave por determinação do comandante",
afirma.
Samantha começa a
questionar por que está sendo retirada do avião, enquanto várias passageiras
começam a protestar contra a expulsão. Até que um dos agentes federais alega
que o comandante, não identificado, ordenou a retirada dela por questões de
"segurança de voo". Em nenhum momento da gravação, a mulher apresenta
qualquer tipo de resistência contra os funcionários ou os policiais. Mesmo
assim, por fim, acaba retirada.
A jornalista Elaine
Hazin, que estava a bordo do voo e fez as imagens, publicou a situação nas
redes sociais, onde também fez um desabafo. O caso ganhou ainda mais
repercussão ao ser compartilhado pelo apresentador Manoel Soares, que prestou
suporte a Samantha enquanto ela esteve detida no aeroporto.
"Meu coração
está sangrando neste momento. Presenciei agora à noite um caso extremamente
violento de racismo, sofrido por uma mulher negra no voo 1575 da Gol, chamada
Samantha. Depois de uma hora de atraso, embarcamos e Samantha não conseguia um
lugar para guardar sua mochila, o voo estava 'cheio' para ela. A tripulação
ignorava completamente o desespero dessa mulher, que era obrigada a despachar a
mochila com seu computador - sendo, inclusive, acusada por parte da tripulação
de ser 'a razão do atraso'. Conseguimos um lugar para a mochila de Samantha e
nem mesmo assim o voo decolou. Mais uma hora de atraso, nenhuma satisfação da
cia aérea, gente passando mal no avião e eis que 3 homens da Polícia Federal
entram de forma extremamente truculenta no avião para levar a “ameaça” do voo
embora - a Samantha", desabafou Hazin.
"Ela se defende
mas não reage, alguns pedem pra ela não ir (na maioria mulheres), eu me
desespero, todas com muito medo, apreensão e os policiais ameaçam algemá-la.
Não dizem a razão de levá-la presa, só que foi uma ordem do comandante.
Samantha era uma ameaça por ser uma mulher, ser preta, ter voz. Ela foi levada
pela polícia, eu quase fui levada junto por defendê-la, me agrediram, me
ameaçaram. A mãe de Samantha chorava desesperada ao telefone por não saber o
destino de sua filha. Eu chorava também. Graças ao meu amigo Manoel Soares,
Samantha não ficou só e teve o apoio de dois advogados. Mas esta história não
termina aqui, queremos justiça", completou
O outro lado
Em nota, a Gol Linhas
Aéreas informou que, durante o embarque do voo 1575 com destino ao aeroporto de
Congonhas, havia uma grande quantidade de bagagens a serem acomodadas a bordo.
“Muito clientes colaboraram despachando volumes gratuitamente. Mesmo com todas
as alternativas apresentadas pela tripulação, uma cliente não aceitou a
colocação da sua bagagem nos locais corretos e seguros destinados às malas e,
por medida de segurança operacional, não pôde seguir no voo”.
“Lamentamos os
transtornos causados aos clientes, mas reforçamos que, por medidas de
segurança, nosso valor número 1, as acomodações das bagagens devem seguir as
regras e procedimentos estabelecidos, sem exceções. A companhia ressalta ainda
que busca continuamente formas de evitar o ocorrido e oferecer a melhor
experiência a quem escolhe voar com a Gol e segue apurando cuidadosamente os
detalhes do caso."
Fotos: Divulgação
Fonte: Jornal do Brasil
Repórter: Jota Santos